As Bem-aventuranças (Mt 5, 3-12) são o Programa de Vida de Jesus. Ao vivê-las, nos tornamos semelhantes a Ele, assim como os santos o foram.

No sábado, 14 de maio, preguei no Jovens Sarados – Missão Parada Inglesa, dando uma catequese sobre as Bem-aventuranças, o programa de vida de Jesus. Deixo aqui, então, o texto que escrevi para me guiar nessa pregação. Confesso que na hora não usei nem metade rs. Deus nos abençoe!

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AS BEM-AVENTURANÇAS

Ao olharmos para as Bem-aventuranças (Mt 5, 3-12), precisamos, de certo modo, olhar também para o contexto, para o ambiente, para a postura de Jesus. Tudo nessa passagem quer nos dizer algo.

As Bem-aventuranças são o programa de vida de Jesus. Ele, o Bendito que veio em nome do Senhor, agora nos apresenta a via para também irmos ao Pai, para habitarmos diante do Bendito, para vivermos na Visão Beatífica.

As Bem-aventuranças estão escritas não apenas nos evangelhos de Mateus e Lucas, mas de forma especial e atualizada, na vida dos santos, que entenderam que antes de qualquer outro chamado, eram chamados à santidade, a parecerem-se com o Cristo, a serem outros Cristos e assim viverem e propagarem aqui na terra, o que eternamente viveremos no céu, se assim o ‘merecermos’.

Os santos tornam-se santos porque encarnam as Bem-aventuranças. As tiram da caixa das teorias e as vivem, alguns, literalmente até a última linha, vivendo além do martírio da ridicularidade, o martírio de sangue, imitando em tudo e, fidedignamente, o Senhor.

Vemos na Virgem Maria, principalmente, depois de Jesus, o cumprimento perfeito das Bem-aventuranças. Isabel confirma isso ao saudar Maria: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre (…) Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!”. E Maria, como aquela que plenamente faz a vontade do Pai, diz: “Por isso, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações” (Lc 1, 48).

O monte e a posição de Jesus

Ao olharmos para essa passagem das Bem-aventuranças, facilmente nos lembramos também de Moisés no Monte Sinai e o decálogo. Diante dos Dez Mandamentos, dos trovões, de um Deus que não se pode ver, da ventania, das chamas, das trombetas e de tudo mais que parece cena de filme de terror, o povo prefere manter distância e diz:

“Fala-nos tu mesmo, e te ouviremos; mas não nos fale Deus, para que não morramos” (Ex 20, 19).

Mas agora, no Sermão da Montanha, diferente do Êxodo, Deus – Jesus se senta e o povo se senta ao Seu redor para ouvi-Lo. Jesus assume a cátedra de Moisés e, com proximidade e autoridade, ensina o povo. Ele não abole os 10 mandamentos, como disse diversas vezes, mas se utiliza das Bem-aventuranças para se aprofundar no decálogo. Jesus inaugura um novo tempo e abre as ‘inscrições’ para o discipulado. Não são apenas uns os convidados a viverem dessa forma, mas todos!

Sermão da Montanha – The Chosen | Angels

Se é possível adorar em qualquer lugar, em espírito e em verdade, como o Senhor ensinou à Samaritana, também qualquer um pode ser santo, se estiver disposto a fazer as renúncias e escolhas próprias dos que são chamados de amigos de Deus, de ‘benditos do meu Pai’.

Agora não é mais um ensinamento distante. Deus não precisa mais de mediador, mas Ele mesmo ensina o Seu programa de vida. Não só na teoria, na pregação, mas na prática, pois assumiu a nossa condição. Ninguém mais pode dizer “pra Deus é fácil”, pois Deus se fez homem para nos ensinar e nos reabrir o Paraíso.

E as Bem-aventuranças, que são a síntese do Evangelho de Jesus, são o caminho seguro para chegarmos à Vida Eterna, onde não haverá nem choro, nem ranger de dentes, mas alegria eterna.

Como diz a Oração Eucarística V, ao rezar pelos falecidos: “A todos os que chamastes para outra vida na vossa amizade e aos marcados com o sinal da fé, abrindo vossos braços, acolhei-os. Que vivam para sempre bem felizes no reino que para todos preparastes”.

Apesar de já não haver mais o medo manifesto pelo povo a Moisés, ainda existe uma morte: quem ouve as Bem-aventuranças e quer suas ‘recompensas’, precisa morrer para si mesmo, para os luxos, para a guerra, para a vida desregrada, para os prazeres da carne. Só sim será feliz!

Não é uma ideologia!

O Papa Bento XVI nos ensina:

“(As Bem-aventuranças) não se trata de uma nova ideologia, mas de um ensinamento que vem do alto e toca a condição humana, justamente aquela que o Senhor escolheu viver. As Bem-aventuranças são um novo programa de vida, para libertar-se dos falsos valores do mundo e abrir-se aos verdadeiros bens, presentes e futuros. De fato, quando Deus consola, sacia a fome de justiça, enxuga as lágrimas dos aflitos, significa que, além de recompensar cada um de modo sensível, abre o Reino dos Céus. As Bem-aventuranças são a transposição da cruz e da ressurreição na existência dos discípulos. Eles refletem a vida do Filho de Deus que se deixa perseguir, desprezar até a morte, a fim de que a salvação seja concedida aos homens”.

Traduzindo: Quem vive as Bem-aventuranças, tem as recompensas não apenas para si, mas gera vida em torno de si e para a Deus e a Igreja. Viver as Bem-aventuranças é irradiar, é testemunhar, é viver como Cristo para que outros tenham com Ele uma experiência de vida.

Muitas vezes nos prendemos a práticas extremistas ou novas devoções, quando não vivemos o mínimo do que o Senhor nos pede. As novas devoções e práticas devem ser complementares, mas o Senhor nos chama antes a vivermos o que Ele viveu.

Relação entre Cruz e Ressurreição

Como nos ensina Bento XVI, as Bem-aventuranças levam cada um a experimentar uma relação íntima e interior entre a cruz e a ressurreição. A cruz é dura, difícil de carregar e nos leva a uma morte. Mas não para nisso. Apesar da dureza da pobreza, da aflição, da fome e da sede, e da perseguição, nos aguarda a ressurreição que nos abre o Reino, que nos dá a Terra por herança, que nos dá consolação, que nos saciará, que nos dará misericórdia, que nos fará ver a Deus e que fará de nós, filhos, de uma vez por todas.

Vivendo de verdade as Bem-aventuranças, adquirimos forças, em especial nesse tempo tão difícil, para transformarmos a dor em amor redentor.

Uma cristologia escondida

“Vimos que o Sermão da Montanha é uma cristologia escondida. Por trás está a figura de Cristo, do homem que é Deus, mas, por isso mesmo, que desce, que se aniquila até a morte na Cruz. Os santos, desde São Paulo até São Francisco de Assis e Madre Teresa, viveram essa opção e assim nos mostram a imagem correta do homem e da sua felicidade. Em uma só palavra: a verdadeira ‘moral’ do cristianismo é o amor. E ele se situa claramente em oposição ao egoísmo – ele é saída de si mesmo e é precisamente deste modo que homem acede a si mesmo. Ao brilho tentador da imagem do homem de Nietzsche, este caminho aparece no primeiro momento como miserável, como não recomendável. No entanto, ele é realmente o caminho que conduz à elevação da vida, somente no caminho do amor, cujas sendas são descritas no Sermão da Montanha, abre-se a riqueza da vida, a grandeza da vocação humana” (Bento XVI, Jesus de Nazaré).

Deus nos abençoe e nos ajude a viver as Bem-aventuranças aqui e agora, para um dia estarmos juntos bem felizes, no Reino que Ele preparou para todos nós.

Que o santos que encarnaram as Bem-aventuranças, nos ajudem a vive-las!

Ps: O pessoal do Jovens Sarados fez um post super bacana com 5 dicas retiras da minha pregação. Veja só:

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